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Nós
amamos. Eles também. Ana
Garrett [1]
A capacidade de um
qualquer ser é amar. Capacidade inata e descrita ao longo dos séculos
como uma espécie de fonte da vida. É nesta apetência que encontramos
sentido de caminho; é com esta instrumentação que asseguramos uma
continuidade, um prolongamento.
Se o amor pelo outro
nos torna vulneráveis, infantilizados e mais sensíveis, dá-nos por
outro lado, a percepção de que estamos vivos, de que as manhãs são
menos cinzentas, de que, afinal, os pássaros cantam sempre, de que o
mar está mais azul e o céu mais limpo. E faz menos frio.
É no amor que
sentimos que vamos buscar a ideia de utilidade, do indispensável, do
pacto de união sólida e serena, de um futuro promissor. Este é o
direito número um da condição de se estar vivo.
A verdade absoluta
é que adoramos estar em “estado de graça”. Quem não está
apaixonado está vazio. Sofre a sós. Existe a sós. E termos acesso a
este estado é como que uma exigência que chamamos a nós, é algo que
nos assiste como uma obrigatoriedade no curso das nossas vivências.
O constructo de
casualidade em encontrar o objecto passional é destruído quando
verificamos que a pessoa que amamos hoje reuniu uma série de critérios
racionais num dado momento: A
determinada altura começou a fazer parte do nosso círculo social;
Houve
chamada de atenção: o
Nas suas palavras o
No seu olhar o
Na sua postura o
No seu riso o
Na sua pele o
No seu toque em nós o
Na sua história de vida
Mas
o mesmo constructo mostra-nos que foi casual o seu aparecimento e que
foi casual:
Em
suma, parece haver ligação entre a casualidade da proximidade do
objecto amado e a probabilidade de nos apaixonarmos. Ou seja, existe uma
maior probabilidade de nos sentirmos atraídos por alguém que convive
diariamente connosco do que por alguém com quem estabelecemos diálogo
numa viagem de combóio e que nunca mais voltaremos a ver. É uma
verdade de La Palisse. Pois
é. Mas era exactamente aqui que queríamos chegar. Senão vejamos: -
Espaço Cénico: Um
Centro de Actividades Ocupacionais. -
Personagens: Dois
indivíduos portadores de deficiência mental. Humanos. Jovens. Vivos.
Saudáveis fisicamente. -
Comportamentos: Olhares.
Sorrisos. Palavras. Mão na mão. Troca de presentes. Negação de
comparência quando o outro se ausenta. Partilha de gargalhadas. Músicas
entoadas em conjunto. -
Final: Paixão.
Então...? Nós
amamos. Eles também.
A
reacção mais tentadora da “norma” é o evitamento.A separação física
como solução para um problema que não é problema, para uma
contrariedade que só o é porque povoa determinadas cabeças confusas
no acto de amar e ser amado. A
tendência à indignação faz-nos observar que, para muitos, os
deficientes mentais não podem amar. Não o devem fazer. E porquê?
Porque, pura e simplesmente, não sabem. Não racionalizam, não pensam.
E nós? Racionalizamos quando amamos? Sabemos fazê-lo da melhor maneira?
E qual é formula ideal para se amar como deve ser? A
fuga a uma atitude imediatista é objectivo primeiro para quem é
tecnicamente responsável duma valência deste tipo. Há a considerar,
ponderada e sensatamente, todas as variáveis envolvidas. Há que
accionar mecanismos que protejam os envolvidos, por exemplo, da ocorrência
de uma gravidez. Mas nunca, nunca proibir o amor. Porque...
Eles
amam. Nós também. [1] Copyright
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