A Epistemologia e a Psicologia Genética de Jean Piaget
Trabalho realizado por:
Trabalho realizado no 1º ano no âmbito da disciplina de Epistemologia
Vítor
Fragoso (ISMAI)
David
Rodrigues ( Univ. Minho)
Liliana
Vasconcelos (ISMAI)
Martine
Ribeiro (ISMAI)
Susana Costa (ISMAI)
INTRODUÇÃO
GÉNESE
DA EPISTEMOLOGIA GENÉTICA PIAGETIANA
EVOLUÇÃO E RELAÇÃO ENTRE A EPISTEMOLOGIA E A PSICOLOGIA
FILOSOFIA
E EPISTEMOLOGIA/PSICOLOGIA GENÉTICA
A
ASSIMILAÇÃO E A ACOMODAÇÃO NO PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO
OS
ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
Introdução:
Piaget
e a Epistemologia Genética, ainda
hoje é um tema, que à partida, parece ambíguo. Não é que na verdade o seja,
mas o de a Epistemologia genética
ser relacionada, por quem nada ou pouco conhece acerca dela, com a Filosofia. A
relação que é "criada" entre elas é uma relação de pertença,
quase com se a Epistemologia fosse
um aparte da Filosofia. O tema torna-se complexo devido a isso.
Génese
da Epistemologia genética Piagetiana, evolução e relação entre a
Epistemologia e a Psicologia
Piaget
iniciou as suas pesquisas ao lado de um zoólogo, e cedo se habituou a observar
a natureza, a descobrir as regularidades que aí se apresentam e a formular leis
que regiam a vida dos animais e vegetais. Seis ou sete anos depois, quando
completava quinze anos, Piaget apaixonou-se pela filosofia, cultivando o plano
de escrever uma teoria do conhecimento. Não desejava contudo imitar os filósofos,
fechando-se no seu gabinete de trabalho, ao contrário pretendia elaborar
suas ideias adoptando o exemplo do seu mestre, observando o comportamento
humano como havia observado o comportamento dos animais. Isso conduziu ao estudo
das acções das crianças, daí surgir a sua teoria acerca do nascimento da
inteligência.
O
objectivo primordial de Piaget era o de solucionar a questão do conhecimento,
como é possível alcançar o conhecimento? Formulada a questão, surge de
imediato outra, conhecimento de quê? A resposta a Segunda questão é simples,
o conhecimento do mundo em que vivemos, do meio que nos circunda. Todavia a
palavra "meio" não se limita a designar os objectos que nos rodeiam,
Piaget entende-a por via diversa, pois abrange tudo, natureza, objectos construídos
pelo homem, ideias, valores, relações humanas, em suma a história e a
cultura.
Que
significa conhecimento? Para Piaget a palavra não tem o significado que o senso
comum lhe dá. Para ele o termo "conhecer" tem sentido claro:
organizar, estruturar e explicar, porem a partir do vivido (do experênciado).
Conhecer
não é somente explicar e viver, conhecer é algo que se dá a partir da vivência
ou seja, da acção sobre o objecto do conhecimento.
Para
Piaget, não há conhecimento sem conceitos. Significa isso que o conhecimento
parte da acção de uma pessoa sobre o meio em que vive, não
Se
o objecto do conhecimento é o meio, abrangendo os aspectos físicos e
culturais, qual o sujeito do conhecimento? Não é o indivíduo, nem o eu psicológico.
O sujeito do conhecimento para Piaget, é o sujeito epistémico, um sujeito
ideal, universal, que não corresponde a ninguém em particular, embora
sintetize as possibilidades de cada uma das pessoas e de todas as pessoas ao
mesmo tempo. Para Piaget o sujeito epistémico é então o sujeito do
conhecimento. É o sujeito da sua epistemologia. Mas o que é a epistemologia?
Classicamente diz-se que é o estudo crítico do conhecimento científico.
Qual
é então a relação entre epistemologia e psicologia para Piaget, e o problema
do conhecimento
que aparece como centro da sua obra?
Sendo
a epistemologia o "estudo crítico" do conhecimento científico,
observando o comportamento da criança e reflectindo em termos genéricos a
respeito do conhecimento e, em termos particulares, a respeito do conhecimento
alcançado na física, Piaget concluiu que a criança e o cientista conhecem o
mundo da mesma forma. Piaget entende que há uma analogia entre a forma como a
criança constrói a sua realidade, estruturando a sua experiência vivida, e a
forma como pela qual o cientista constrói a física. As diferenças entre um
tipo de conhecimento e outro expressariam níveis diferentes da capacidade
humana de conhecer. Em suma, de acordo com Piaget, explicar como é possível o
conhecimento, de maneira geral, é o mesmo que explicar como é possível o
conhecimento científico. Aí está a razão pela qual Piaget chama "epistemologia"
à sua teoria do conhecimento.
Mas
porquê de genética? A razão está em que Piaget não se limita a explicar
como é possível o conhecimento de um adulto, discute ainda , as condições
necessárias para que a criança chegue , na vida adulta ao conhecimento possível
para ele. Conhecimento possível, porque a capacidade de conhecer é fruto de
trocas entre o organismo e o meio. Essas trocas são responsáveis pela construção
da própria capacidade de conhecer capacidade de conhecer, sem
elas essa capacidade não se constrói. Por exemplo as pessoas cegas,
surdas mudas apresentam
um "déficit", ou seja, um atraso mental, determinado pela falta de
troca entre o seu organismo e o meio (o factor responsável pela construção da
capacidade de conhecer), como neste caso não há lesão orgânica, assim que se
estabeleceu o contacto entre o organismo e o meio (usando e estimulando o
tacto), abriu-se a possibilidade da troca entre eles e, assim, constituíram-se
as estruturas mentais. Assim qualquer criança cujas trocas com o meio tenham
sido prejudicadas, não importa o factor, pode apresentar "déficits".
O que não quer dizer que não seja passível de ser superado.
De
acordo com Piaget há três tipos de estruturas no organismo humano. Em primeiro
lugar, as estruturas totalmente programadas, como as do aparelho reprodutor, que
nos capacitam de prever determinados comportamentos que se manifestam em
determinadas épocas (ex: a fase de maturação sexual e a possíbilidade de
reprodução da espécie). Em segundo lugar, as estruturas parcialmente
programadas, como as do sistema nervoso, cujo desenvolvimento e construção
dependem já em grande parte ao meio. Em terceiro lugar, teríamos o que Piaget
chama de estruturas nada programadas e que seriam assim chamadas estruturas
mentais , específicas para o acto de conhecer.
As
estruturas nada programadas são uma noção nova trazida pela teoria de Piaget.
Estrutura orgânica nada programadas porque, a espécie humana
Piaget
acredita portanto que existem estruturas específicas para o acto de conhecer,
as estruturas mentais, que sendo orgânicas, aparecem como fruto da interacção
dos dois, colocando assim uma terceira possibilidade que elimina a
"contradição", presentes na ideia do organismo como algo oposto ao
meio. Aparece assim uma nova noção de organismo, pois no que se refere às
estruturas mentais, o organismo já pressupõe o meio.
A
interacção organismo - meio, acontece através do processo de adaptação com
os seus dois pólos: assimilação acomodação. Ela acontece em diferentes níveis,
desde os mais elementares até aos mais elaborados, como as trocas simbólicas,
ao nível das artes e da filosofia.
O
conceito de adaptação sofre, na obra de Piaget, uma evolução facilmente
identificada. Em um primeiro momento a palavra "adaptação" recebe o
sentido que lhe é próprio na biologia clássica, lembrando um fluxo irreversível.
Em um segundo momento no entanto, explica-se em termos de equilíbrio
progressivo, que Piaget denomina de equilíbrio "majorante".
Em
terceiro momento explica-se em termos de uma "abstracção reflexiva"
interioriza o processo dialéctico, através do qual o ser humano cresce, se
socializa, conhece e se autodetermina (o conhecimento não pode ser tratado como
um facto mas sim como um processo).
A
adaptação ao meio segundo Piaget realiza-se, por meio da acção. A acção é
um elemento nuclear na teoria de Piaget , já que é responsável pela interacção
meio - organismo, que se realiza através da adaptação.
A
acção segundo Piaget só é possível graças, à construção pela criança,
O
estruturalismo psicogenético (infantil) - considerou-se durante largos anos, que a criança só aprendia o que já está
inscrito num mundo exterior organizado e sobretudo, o que o adulto lhe ensina. "Ora
as duas grandes lições que a criança nos dá é que o universo só é
organizado se ela tiver inventado, passo a passo, essa organização,
estruturando os objectos, o espaço, o tempo e a causalidade, constituindo assim
uma lógica..." [
Piaget, jean - "A Psicologia", pág.89].
Ou
seja a psicologia infantil "ensina-nos
que o desenvolvimento é uma construção do real, para além do inatismo e o
empirismo, e que é o conjunto de estruturas e não uma acumulação aditiva de
aquisições isoladas". [
Piaget, jean - "A Psicologia", pág.90]
Mas
afinal o que pensa Piaget acerca da Epistemologia e como a define?
Segundo
Piaget: "a epistemologia é a
teoria do conhecimento válido e, mesmo que este conhecimento nunca seja um
estado, é sempre um processo, é essencialmente a passagem de uma menor
validade para uma validade superior. Daí resulta que a epistemologia
confundir-se ia com a lógica, ora, o seu problema não é puramente formal, mas
consiste em como o conhecimento atinge o real, logo quais as relações entre o
sujeito e o objecto. Se apenas se tratasse de factos, a epistemologia
reduzir-se-ia a uma psicologia das funções cognitivas, e esta não tem competência
para resolver as questões de validade.
Filosofia e Epistemologia/Psicologia Genética
Piaget
discute o problema da
competência actual do tratamento das questões epistemológicas, dado que, ao longo dos séculos,
estas questões foram do domínio da filosofia.
No
que diz respeito à epistemologia,
ela constituiu durante muito tempo um dos ramos essenciais da filosofia, quando
os grandes filósofos eram ao mesmo tempo criadores científicos, como Descartes
ou Leibniz, e teóricos do conhecimento ou quando, sem que tivessem
criado novas ciências, aprenderam a reflectir em função das próprias ciências,
como Platão a partir das matemáticas ou Kant
a partir de Newton. A fonte mais
fecunda da reflexão filosófica é
a epistemologia , o renovar da epistemologia é unicamente devido á reflexão
sobre as ciências.
A
epistemologia grega nasceu de uma
reflexão sobre as matemáticas, com Platão, e sobre a lógica , com Aristóteles,
enquanto foi necessário esperar por Descartes
, Leibniz e principalmente por Kant
para que se desenvolvessem epistemologias nascidas da colaboração das matemáticas
com a experiência física.
Piaget
estava convencido que era necessária a formação filosófica ao cientista, e
por isso ele afirmava “O homem que não contactou com a filosofia está incuravelmente
incompleto.”[in
"Ilusão ou Filosofia", Porto, 1976, pág.65]
A
filosofia foi matriz de todas as ciências e continua, sem dúvida, a sê-lo,
assim como de muitas perspectivas que ainda não foram descobertas; mas só na
medida em que não se encerra noutros
sistemas e não se considera conhecimento; ela é-o na medida em que abre novas
perspectivas e em que não compete ou é rival da ciência.
O
problema de como o sujeito conhece é fundamental em filosofia. Piaget retoma-o,
revendo e discutindo o apriorismo de Kant.
O
problema central de epistemologia é, com efeito, estabelecer se o conhecimento
se reduz a um puro registo pelo sujeito de dados
já organizados independentemente dele num mundo exterior (físico ou
ideal), ou se o sujeito intervém activamente no conhecimento e na organização
dos objectos, como julgava Kant. Para
Kant as relações de causalidade
eram devidas à dedução racional e as relações espacio-temporais à organização
interna das nossas percepções, sem que saibamos o que são os objectos
independentemente de nós.
Kant
libertou-se definitivamente do “realismo” das aparências, para situar no
sujeito a fonte, não só da necessidade dedutiva, mas ainda das diversas
estruturas (espaço, tempo, causalidade, etc.) que constituem a objectividade em
geral e que tornam, assim a experiência possível. Descobriu portanto, o papel
dos quadros a priori, e a possibilidade de juízos sintéticos a priori; somando-se às
simples ligações lógicas (ou juízos analíticos a priori ) e susceptíveis de impor à percepção e à experiência,
em geral, uma estrutura compatível com a dedução matemática.
Talvez
Kant
tenha ido muito longe em tal direcção, talvez as suas estruturas
a priori tenham
sido muito rígidas e mesmo a necessidade de a
priori não corresponda a
quadros pré-estabelecidos, mas mesmo
assim diz Piaget “ Kant inventou uma nova maneira de pôr os problemas epistemológicos
e dotou o sujeito que conhece ( o ipse
intellectus de Leibniz) com uma
espessura e dimensões até aí desconhecidas.”["Lóguica
et connaissence seientifique", Paris
- Encyclopédie
de la Pleiade, 1967, pág.23]
Considerar
as estruturas do pensamento como preformadas quer nos objectos físicos, quer
nos a priori do sujeito, a
dificuldade reside em que se trata de dois termos limites, cujas as propriedades
se modificam à medida que pensamos atingi-las, enriquecendo-se as primeiras e
empobrecendo as segundas.
Para
Kant, a coisa em si é incognoscível. O conhecimento só é possível
pela colaboração de estruturas existentes no sujeito antes da experiência. O
objecto conhecido resulta das estruturas a
priori do sujeito envolvido no processo de conhecimento.
Kant
cria aquilo a que se chama, um plano transcendental, que corresponde ás
estruturas que condicionam todo o conhecimento. Este plano distingue-se
do da sensibilidade, tentando Kant,
com esta oposição, deixar bem claro que os nossos conhecimentos não ocorrem
pura e simplesmente por via sensorial.
Para
Piaget, os nossos conhecimentos não provêm nem de sensação, nem
de percepção, isoladas; provêm da acção inteira
da qual a percepção constitui somente a função de sinalização.
Podemos
concluir que, para Piaget, conhecer
implica transformar. O
Com Hegel poder-se-ia ser tentado a reconhecer a existência da única grande epistemologia não inspirada na reflexão sobre as ciências. Mas, além do facto do método dialéctico por ele utilizado proceder directamente dos aspectos dialécticos da epistemologia Kantiana, o acontecimento fundamental que está na base da dialéctica hegeliana é a consideração da história (essa novidade própria do século XIX) e num sentido já nitidamente sociológico. Pode mesmo dizer-se que Hegel antecipou a sociologia, sabe-se perfeitamente que a dialéctica hegeliana constituiu uma das fontes do método dialéctico de K. Marx e dos seus continuadores. Estes métodos, de origem sociológica, são susceptíveis de fazer luz sobre muitos outros domínios além das epistemologias centradas sobre as ciências sociais, porque problemas análogos encontram-se em todos os espaços onde intervém uma história ou um processo evolutivo, nomeadamente em epistemologia genética.
Marx
distinguiu a infra-estrutura da superestrutura. Paralelamente Piaget distingue
comportamento real de consciência, dando igualmente grande relevo à interacção
sujeito-objecto.
O mérito de Marx foi, com efeito, ter distinguido nos fenómenos sociais uma infra-estrutura efectiva e uma superestrutura oscilando entre o simbolismo e a tomada de consciência adequada no mesmo sentido em que a psicologia (nomeadamente a genética) é obrigada a distinguir entre comportamento real e consciência. A infra-estrutura consiste nas acções efectivas ou nas operações que consistem no trabalho e nas técnicas e ligam os homens em sociedades à natureza: relações “materiais”, diz Marx, mas é preciso entender que, desde as condutas mais materiais de produção, há troca entre o homem e as coisas, quer dizer interacção indissociável entre os sujeitos activos e os objectos. è esta actividade do sujeito em interdependência com as reacções do objecto que caracteriza essencialmente a posição chamada “dialéctica”, por oposição ao materialismo clássico (Marx explicou-se acerca disto, reprovando a Feuerbach a sua concepção receptiva ou passiva da sensação). A superestrutura social está então para a infra-estrutura como a consciência do homem individual está para a sua conduta: da mesma maneira que a consciência pode ser auto-apologia, uma transposição simbólica ou um reflexo inadequado de um comportamento, ou que chegue a prolongá-lo sob a forma de acções interiorizadas e de operações que desenvolvem a acção real; da mesma maneira a superestrutura social oscilará entre a sociologia e a ciência.
Concluindo em Piaget, Hegel e Marx chamaram a atenção para o papel da história na génese do conhecimento, defendendo que o conhecimento se constitui progressivamente por um processo dialéctico.
Sendo assim a Epistemologia Genética é o estudo da forma como o conhecimento é adquirido. Piaget pretende compreender como crescem não só os conhecimentos, como também a capacidade de conhecer. A investigação de Piaget é direccionada para um campo psicológico, Piaget investiga o desenvolvimento mental da criança, desde a sua infância até a idade adulta. Piaget tem uma perspectiva construtivista, conseguindo desse modo superar as teorias clássicas (racionalismo/empirismo). Segundo a teoria construtivista, o conhecimento surge como uma construção do sujeito, na sua relação activa com o mundo. O conhecimento é um processo interactiva com que envolve o sujeito e o meio, e que decorre em etapas que Piaget designa por “Estádios do Desenvolvimento” (dos quais faremos referência posteriormente). Piaget vai demonstrar que há um interacção Sujeito/Meio na construção do conhecimento.
Jean Piaget revolucionou a teoria do desenvolvimento intelectual. Considerava-se a si próprio epistemólogo. De facto, interessava-se essencialmente pela espistemologia genética que pretende estudar como se estrutura o conhecimento, isto é, a sua natureza e evolução.
O desenvolvimento está relacionado com a génese do conhecimento daí a designação de psicologia genética.
A sua formação de biólogo influenciou a maneira como perspectivou o processo adaptativo através da assimilação e acomodação, numa dinâmica interactiva indivíduo-meio.
O desenvolvimento cognitivo faz-se por mudanças de estruturas através de invariantes funcionais, isto é, de mecanismos de adaptação que são a assimilação e a acomodação.
Entende-se por assimilação como sendo um processo mental pelo qual se incorporam os dados das experiências aos esquemas de acção e aos esquemas operatórios existentes. É um movimento de integração do meio no organismo.
Entende-se por acomodação como sendo um processo mental pelo qual os sistemas existentes vão modificar-se em função das experiências do meio. É um movimento do organismo no sentido de se submeter às exigências exteriores, adequando-se ao meio.
Ao processo de regulação entre assimilação e acomodação dá-se o nome de equelibração.
Estes são interactivos, pois o facto de o sujeito integrar os dados do meio e estes serem assimilados permite que os esquemas evoluam e que, portanto, sejam mais capazes de responder aos problema.
Existem actividades mentais em que há um predomínio da assimilação (jogo simbólico) e outras em que há um predomínio da acomodação (imitação).
“Sem
dúvida que pode haver assimilação sem nova acomodação, quando a situação
é a mesma e quando só há que compreender coisas já conhecidas e
imediatamente assimiláveis e, naturalmente,
pode haver assimilação com novas acomodações, em situações não
conhecidas até então.”
Piaget,
in Inhelder, Garcia e Vonèche, op.at., pag.67
A inteligência é perspectivada como uma adaptação do indivíduo e das suas estruturas cognitivas ao meio. Esta adaptação é orientada pela equilibração entre as acções do organismo sobre o meio e as do meio sobre o organismo. Isto é, há um processo interno que regula o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação.
Um acto de inteligência no qual assimilação e acomodação estão em paralelo ou em equilíbrio constitui uma adaptação intelectual.
Desde a mais tenra idade, nos primeiros dias de vida, quando a criança não tem ainda capacidade de representação, ela já é capaz de atribuir significado, na medida que começa a construir esquemas motores ou de acção. Piaget diz que a significação é o resultado da possibilidade de assimilação, chega mesmo a dizer que a assimilação consiste em conferir significações. Ora, todo o conhecimento, em qualquer nível, desde o mais elementar como nos primeiros dias e meses de vida; até o nível físico, consiste em assimilar o objecto do conhecimento, qualquer que seja a estrutura conferindo-lhe então significado.
Ao nascer, a criança inicia a sua adaptação ao meio através da assimilação e a primeira delas é, como se sabe, o sugar ( primeiro esquema de acção, derivado do reflexo de sucção), que se constituiria o primeiro acto significador, primeira forma de acção sobre o mundo.
Quando não há possibilidade de assimilação, o esquema adapta-se (acomodação) para se transformar num outro mais adequado e capaz, então, de realizar a assimilação.
No domínio do comportamento chamaremos de acomodação a variação de um esquema, por exemplo: se o bebé procura pegar um cordão amarrado ao tecto do seu carrinho e o cordão está fixado, a criança é obrigada a puxar em vez de pegar simplesmente e, então, o esquema de preensão simples é transformado em esquema de puxar. O processo de acomodação comporta dois aspectos importantes:
1. Designa uma actividade. Ainda que a acomodação do esquema de assimilação seja imposta pela resistência do objecto, ela é fruto da reacção do sujeito, no sentido de compensar esta resistência.
2. Se a acomodação é também uma actividade, consistindo em diferencia um esquema de assimilação, ela é apenas derivada dessa assimilação.
Os esquemas de assimilação coordenam-se em sistema s em quanto possibilidade de assimilação e constituem-se, nesse momento, nas estruturas às quais são assimiladas objecto e eventos do seu meio. É através dele que a criança vai construindo no seu mundo os sistemas de significação que, por sua vez, se constituem na primeira forma de saber do ser humano. A significação é o resultado da possibilidade de assimilação e não o inverso.
Merleau-Ponty afirma que um objecto é percebido porque tem um sentido, inversamente, para Piaget, ele tem um sentido porque é possível de ser assimilado por um esquema de acção ou por um sistema de esquemas de acção. A assimilação classifica e ordena os objectos, no sentido em que, em presença de um objecto novo, a criança tenta assimilá-lo, aplicando-lhe sucessivamente todos os esquemas dos quais dispõe: o objecto será apanhado, chupado, balançado...
Mas a adaptação só se consegue levar a um sistema estável quando há um equilíbrio entre assimilação e acomodação.
Os
estádios caracterizam-se por:
v
uma estrutura com características
próprias;
v
seguem uma ordem de sucessão
constante;
v
uma evolução integrativa,
isto é, as estruturas adquiridas são integradas no estádio seguinte. Assim as
estruturas vão sendo hierarquicamente superiores.
v
Em todos os estádios a
permuta entre o sujeito e o mundo opera-se por dois mecanismos constantes que são
a assimilação e a acomodação.
Estas
características vêm provar que os estádios não são completamente estanques
e que assim se poderá encontrar algumas características dos estádios
anteriores. Assim as idades médias de início de cada estádio de
desenvolvimento são apenas orientações teóricas.
Piaget
considerou os seguintes estádios para o desenvolvimento:
ð
Sensório-motor (0 aos 18/24
meses)
ð
Pré-operatório (2 aos 7
anos)
ð
Operações concretas (7aos
11/12 anos)
ð
Operações formais (11/12 aos
15/16 anos)
O
Estádio Sensório-Motor - este
estádio situa-se aproximadamente entre 0
aos 24 meses de vida, e é
caracterizado por uma inteligência prática, isto é, aplica-se na resolução
de problemas baseada na acção, no movimento e nas percepções.
É
neste período que as aquisições são mais rápidas e mais numerosas. No início
desta fase a criança encontra-se num estado de indeferenciação entre ela e o
mundo, não se destinguindo, por conseguinte, dos objectos
que a rodeiam, nem compreendendo as relações entre os objectos
independentemente dela.
Em
vez de palavras a criança serve-se de percepções e movimentos organizados em
esquemas de acção.
Na
presença de um novo objecto, o bebé incorpora-o sucessivamente em cada um dos
seus esquemas de acção, como por exemplo, sacudir, esfregar, balançar, como
se se tratasse de os compreender pelo uso.
Ao
longo destes dois anos, e a nível da acção, ela vai construir algumas noções
fundamentais para o desenvolvimento ulterior, entre as quais se destacam a de
objecto permanente e a causalidade.
Segundo
Piaget, a melhor maneira de se
compreender o conceito de objecto na criança desta idade é observar o seu
comportamento quando um objecto desaparece ou é escondido.
O
objecto permanente - se taparmos com um lenço um objecto que interessa à criança
(bebé), ela é incapaz de afastar o obstáculo para chegar ao objecto. Se bem
que já seja capaz de agarrar e puxar, não o faz, porque o objecto que
desapareceu do seu campo preceptivo deixou de existir para ele. No fim deste período
acredita já na permanência do objecto, mesmo quando é escondido
em sítios diferentes. É já capaz de acompanhar as deslocações e o
procurar no local próprio.
Se
de longe lhe mostramos um brinquedo, ela agita os braços e as pernas e ergue a
cabeça como se esta acção pudesse agir sobre o brinquedo (objecto).
As
noções de objecto permanente e de causalidade não são conceitos abstractos,
dado que se situam a nível da acção
e não da representação. São antes categorias práticas ou esquemas de acção.
Os
trabalhos de Piaget revelam com
clareza que a representação do mundo feita por uma criança difere da do
adulto. Nos primeiros anos do estádio pré-operatório
a criança não entenderá a noção de conservação: dois recipientes
iguais contendo o mesmo volume de água são reconhecidos pela criança como
tendo o mesmo volume de água, se no entanto se deitar o líquido de um dos
recipientes para uma proveta alta e estreita, a criança, nesta fase etária,
dirá que a proveta contém mais água por o nível da água é mais alto, ainda
não entendeu que um objecto conserva as suas propriedades originais ( noção
de conservação).
Como
se efectua
a passagem
ao estádio seguinte?
Por
vezes, as crianças observam os adultos ou outras crianças mais velhas quando
estão a resolver o problemas. Notam que o fazem de uma maneira diferente da
sua, por meio de regras que pertencem a outro estádio desenvolvimento e, por
isso, sentem-se perdidas. Mas este sentimento, que se deve à disparidade entre
elas e os mais velhos na resolução de problemas, tem os seus pontos benéficos.
A criança procura então reduzir a distância que a separa das outras, mais
velhas e, por isso, aprende novas regras. Se a criança for suficientemente
madura imitará o modelo de acção usado pelos mais velhos e, por consequência,
iniciará a sua entrada no estádio seguinte. A aprendizagem de conceitos novos
e de esquemas de comportamento pode pois ser efectuada socialmente, pela observação
de outras pessoas.
Conclusão:
Após
a realização deste trabalho pode concluir-se, a inegável e importantíssima
contribuição de Piaget no campo da
psicologia, todo o séc. XX foi
dominado por ela. A Epistemologia genética
levou novas concepções sobre o desenvolvimento. Repudiando filosofias e
racionalistas, Piaget considera o
desenvolvimento não como um desenvolvimento orgânico em si mas como uma
construção que depende do equilíbrio organismo
- meio. O desenvolvimento orgânico já não é visto separadamente das
aquisições, isto é, da construção de processos cognitivos.
Pode
dizer-se que a teoria de Jean Piaget é
estrutural/construtivista, uma vez que evidencia a construção e organização
de estruturas mentais ou processos cognitivos.
É também funcional/psicobiológia,
por partir da adaptação orgânica e da adaptação intelectual ao meio como
condições funcionais para que haja uma organização das estruturas
cognitivas. São as estruturas cognitivas que permitem compreender, agir, pensar
e resolver problemas.
Mueller,
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Akoun,
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Mourão,
Artur - "Filosofia e
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Isabel/Gomes, Isabel/Franklin, Agostinho - "Sentido(s)
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Manuela/ Ribeiro dos Santos, Milice - "Psicologia"-
1º e 2º volume, Porto Editora
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Rappaport,
Carla Regina/Penna, António Gomes - "Introdução
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António José - "Lições de
Psicologia", Livraria Figueirinhas - Porto - 8ª Edição
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Jean - "Para Onde vai a Educação?",
Livros Horizonte, LDA.- 1990
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Jean - "Psicologia e
Epistemilogia: Para uma Teoria do Conhecimento", Florence. Universitária,
1972 - Rio de janeiro
Henriques,
Androula Christófides - "Aspectos da teoria
Piagetiana e Pedagógica", Instituto Piaget - Divisão Editorial
Pesquisa na Net: http://
www2.ipiaget.pt/infoutil/corpodoc/viseu/j_alvoeiro.htm
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